domingo, 14 de agosto de 2011

Cora Coralina

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889Goiânia, 10 de abril de 1985) foi uma poetisa e contista brasileira. Cora Coralina, uma das principais escritoras brasileiras, publicou seu primeiro livro aos 76 anos de idade.[1]
Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
É avó das jornalistas Ana Maria Tahan e Célia Bretas Tahan
Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana nasceu e foi criada às margens do rio Vermelho, em casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa de Goiás.
Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos de idade, publicando-os nos jornais da cidade de Goiás, e nos jornais de outras cidades, como constitui exemplo o semanário "Folha do Sul" da cidade goiana de Bela Vista - desde a sua fundação a 20 de janeiro de 1905 -, e nos periódicos de outros rincões, assim a revista A Informação Goiana do Rio de Janeiro, que começou a ser editada a 15 de julho de 1917, apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com a Mestra Silvina. Melhor, Mestre-Escola Silvina Ermelinda Xavier de Brito (1835 - 1920). Conforme Assis Brasil, na sua antologia "A Poesia Goiana no Século XX", Rio de Janeiro: IMAGO Editora, 1997, página 66, "a mais recuada indicação que se tem de sua vida literária data de 1907, através do semanário 'A Rosa', dirigido por ela própria e mais Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana." Todavia, constam trabalhos seus nos periódicos goianos antes dessa data. É o caso da crônica "A Tua Volta", dedicada 'Ao Luiz do Couto, o querido poeta gentil das mulheres goyanas', estampada no referido semanário "Folha do Sul", da cidade de Bela Vista, ano 2, n. 64, p. 1, 10 de maio de 1906. Leia-a, na íntegra, conforme ortografia original:

"Chegaste hoje, meo amiguinho? Ja ias tardando... Não tinhas saudades dos teus amigos... Nem de leve podes imaginar como tudo cobrio-se de pesar com a tua prolongada ausencia: o ceo era plumbeo, a lua, magestosa e tranquilla e boa, deixou de ter aquella suavidade, aquelle encanto de outrora, as estrellas tornaram-se pallidas e tristes, os campos, as flores, as veigas perfumadas, eram cheias dessa melancholia profunda e acabrunhadora, os passaros mudaram os seus dulcidos cantares num agustioso gemido; tudo, tudo chorava a tua ausencia...
E hoje, que repentina mudança se operou em tudo! Foi a tua volta... Contempla agora este ceo azul bordado de stractos gentis como se estivessemos em plena primavera, a filar as noivas felizes e a ouvir endeixas de amores...
A lua agora deve ser meiga, e que encantador lençol de prata ha de atirar mansamente por estas campinas em flor, apaixonando os poetas como tu, e fazendo delirar as humildes aves nos seus proprios ninhos.
Como deverá ser magestosa a via láctea cortando de lado a lado o espaço azul como uma enormidade de lampadas accesas pelas mãos divinas dos anjos...
A terra está sendo um paraiso embalsamado dos mais embriagantes perfumes enchendo a nossa alma de amor e poesia. Amanhã o passaredo ha de recordar, festivo a melodiar cantos harmoniosos acompanhados pelas harpas eolias da natureza em festa.
A extrema saudade que me delacerava (sic) a alma na tua ausencia, mudou-se numa alegria indefinida.
A tua presença me torna indulgente para os que me offendem e a tudo anima e dà vida.
Es tu, incontestavelmente, o sol que vivifica toda a natureza como os corações com as tuas admiráveis poesias cheias de belleza, desse encanto que nos arrebata, porque ès o nosso poeta, o poeta gentil das mulheres goyanas; ès tu que nos deleita a vista e enche de harmonias celestes de rimas os nossos espíritos de moças na quadra mais risonha da vida; ès tu que nos dà ceos de saphira, flores risonhas e perfumadas!

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